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Quando a Arte Fala de Feridas Abertas: A Via Dolorosa de Cada Uma, de Maria Oliveira

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A Via Dolorosa de Cada Uma

Em um mundo saturado por imagens vazias, A Via Dolorosa de Cada Uma ressurge como uma revelação visceral. Além de denúncia, a exposição é um grito poético e uma memória coletiva, feita para tocar as profundezas. Concebida pela artista plástica e psicóloga Maria Oliveira, essa mostra vai direto ao centro da dor feminina, sem maquiagem nem mansidão. Por isso mesmo, é tão revolucionária.

Estreada no Teatro Glauce Rocha e em cartaz até 31 de agosto, ela rapidamente se tornou uma das intervenções artísticas mais impactantes sobre violência simbólica, física e emocional contra mulheres no Brasil. Além disso, a exposição convida cada visitante a revisitar suas próprias marcas, pois a alma feminina carrega vestígios que muitas vezes não ousam falar — até agora.

Artista: Maria Oliveira

O Corpo como Suporte, Território e Campo de Batalha

Ao adentrar o espaço expositivo, somos recebidos por formas fragmentadas: figuras femininas cortadas, encaixes imperfeitos, vultos atravessando sombras. As paredes exibem rachaduras como se fossem peles ressecadas, atestando que o feminino também arde, seca e sangra. Logo ali, e com o mesmo impacto, corpos se confundem com espinhos, correntes, utensílios domésticos e lâminas — símbolos cotidianos que carregam feridas profundas.

A paleta de cores é propositalmente terrosa, quase mística. Tons de argila misturam-se a negros densos; consequência: a sensação de erosão, onde identidade, dignidade e liberdade perdem contorno. E ainda bem que isso acontece. Pois se fosse suave, o estrago seria estético. Mas Maria quer fazer barulho — não decorar salas.

Durante entrevista difusa pela Funarte, a artista declarou: “cada obra é um corpo que resistiu”. Essa frase ecoa — e continua ecoando. Com palavras de transição poderosas como “mais do que”, “além disso” e “portanto”, a artista conecta cada fragmento visual ao corpo real: suas cicatrizes não são inventadas.

Redescobrindo o Corpo na Arte

Então, por que essa escolha visual tão radical? Porque Maria não quer pintar a dor — ela quer tangê-la, encostar-se às bordas dela. Dessa forma, as obras se tornam corpos vivos (e às vezes sangrentos). O ferro se oxida, o tecido encharca, a argila racha — mas o que permanece é a presença da mulher que suporta isso tudo e, ainda assim, resiste.

Ainda que muitas vezes outrora invisível, o corpo feminino se faz visível ali. Ele fala, mesmo que em silêncio; ele exige, mesmo que em nuances. E, curiosamente, é nesse contraste que nasce um chamamento: olhar para a dor, abraçá-la, reconhecê-la como potência.

Narrativa não linear: a potência do incompleto

O impacto seria menos potente se houvesse explicações prontas. Porém, Maria evita cartilhas e legendas exaustivas. Em vez disso, apresenta narrativas que se cruzam e se contradizem — exatamente como acontece na vida. Por exemplo, em uma sala escura, espelhos gravados com as palavras culpa, silêncio e vergonha obrigam o público a encarar o reflexo dessas emoções sombrias.

Ainda nesse mesmo espaço, encontramos quadros com títulos como “Mãe aos 13”, “Aquela que ficou” e “Ainda viva”. Sobre papel vegetal, relatos reais são costurados, camada após camada. O resultado é um silêncio carregado, que reverbera nos ossos por minutos. O som dessa imersão é tão profundo quanto silencioso — e, por isso mesmo, impossível de ignorar.

O Feminino como Subtexto e Supertexto

Exposição: A Via Dolorosa de Cada Uma

Nesse ponto, é preciso dizer: Maria não busca abraços calorosos; ela quer abalos sísmicos. Ao invés de embelezar a dor feminina, ela desestabiliza nossa concepção do que a beleza pode (e não pode) ser. Por isso, “Sala de Espera” se destaca: dezenas de cadeiras com roupas penduradas, mas sem nenhum corpo. No centro, uma TV antiga exibe mulheres sussurrando — ecos de vozes apagadas, anuladas.

Essa instalação denuncia com sutileza brutal que a sociedade normaliza a invisibilidade feminina. Ao mesmo tempo, ela coloca no vazio das cadeiras e no murmúrio dos vídeos um chamado urgente para visibilidade e voz. Afinal, se o gênero é silenciado, arte também pode ser — e Maria faz essa escolha propositalmente.

Estações: da Via Crucis ao rito do feminino

Reformar um símbolo milenar é um golpe poético. A artista organiza a exposição em 14 estações — uma alusão à Via Crucis — mas cada estação representa uma etapa da dor feminina: violência no nascimento, abuso sexual, maternidade precoce, luto, envelhecimento solitário.

Por exemplo, na “Estação 4”, “Ela Tentou Dizer Não” mostra uma boca costurada por fios vermelhos: um alerta poderoso sobre consentimento e silenciamento. Já na “Estação 10”, “Todo dia, um pouco menos” retrata um corpo aquarelado que se apaga — como se a mulher desaparecesse gradativamente em sua dor.

Essas estações são ritos visuais. E a visita torna-se uma peregrinação — um testemunho, quase um sacrifício emocional. Muitas pessoas, aliás, relatam ter travado o olhar diante dessas peças por segundos — ou minutos — que se alongam. E tudo isso é proposital: o desconforto faz parte da arte.

Performances e protagonismo feminino

Porém, a exposição não encerra no visual. Amplia-se também no corpo do espectador. Em “Nomes que não viraram manchete”, o público recebe um pedaço de papel kraft com um nome real de vítima de feminicídio — e é convidado a colar esse nome em uma parede coletiva. A cada semana, esse “muro da vergonha” cresce, denunciando histórias que permanecem for a das manchetes.

Além disso, Maria repete com frequência: “a arte precisa servir ao real; não para resolver, mas para refletir”. É uma afirmação com palavras de transição — “além disso”, “portanto”, “porque” — que reforçam a responsabilidade da arte como instrumento de reflexão, e não de distração.

Empoderamento em ação

Aqui, é importante humanizar. Maria Oliveira não é só artista; é psicóloga, ativista e mulher negra que carrega ancestralidades. Assim, em cada pincelada, aparece a luta, o trauma, a resistência. Em cada cerâmica, reverbera ancestralidade e poder. Ali, a estética se funde com identidade, fazendo da exposição não apenas um ato artístico, mas um ato político e pessoal.

Além de sua obra e das ressonâncias que causa, Maria organizou um workshop gratuito “A Arte de se Reinventar”, que acontece dia 14 de agosto na Sala Murilo Miranda. Nele, mulheres são convidadas a transformar dor em criação — uma extensão natural do que já está ali nas paredes: a arte como reexistência, e não como escape.

Exposição: A Via Dolorosa de Cada Uma

A crítica e o reconhecimento

Críticos que mergulharam na mostra não hesitam em elogiar a força narrativa e estética. O curador Oscar D’Ambrósio ressalta como o projeto equilibra emoção, razão e criatividade ao articular a Via Crucis cristã com as violências reais que as mulheres enfrentam instagram.com+4vipmag.com.br+4advvale.org.br+4.

Além disso, o público também reage. Vídeos virais mostram pessoas sendo atravessadas por emoções fortes: lágrimas, taquicardia, suspiro profundo. Afinal, arte que não cala, também não se indica. Ela incendeia.

Quando a Arte Cura e Confronta

“A Via Dolorosa de Cada Uma” não é uma exposição: é uma trilha sonora emocional, uma cartografia da dor, uma celebração da resistência feminina. Cada fragmento aqui é pedacinho de existências reais: mães, filhas, avós, mulheres que se perderam em estatísticas, mas que insistem em existir — no olhar, na lembrança, na arte.

Portanto, se você busca arte com sentido, potência e alma, essa exposição é uma parada obrigatória, e não opcional. Por fim, lembre-se: a Via Dolorosa também pode ser nosso caminho de cura — juntas, em movimento, ressoando coragem.

“A Via Dolorosa de Cada Uma”

Rota da Arte

Exposição: A Via Dolorosa de Cada Uma

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